Friday, February 16, 2007

Encerramento de Linhas Férreas - A solução mais fácil?

Depois de ocorrida mais uma tragédia em Portugal, desta vez na linha do Tua, com uma pequena automotora renovada pelas oficinas da EMEF há mais de 10 anos, e que se encontrava ao serviço da CP mediante protocolo com a empresa municipal Metro de Mirandela, numa forma de ajudar a rentabilizar a empresa, mas também dispensando dessa forma a CP de garantir com o seu material o percurso desde o Tua a Mirandela, umas questões se colocam.

Não sobre a geo-morfologia dos terrenos, nem sobre as causas da queda de pedras que teriam empurrado a automotora para a ravina que desce abruptamente para o leito do rio, nem se em vez de uma pedra que teria abalroado a automotora, como se pode ler hoje nas páginas do jornal PÚBICO, se se trataria de um simples colapso da ravina por onde passa o leito da via férrea, e que as imagens passadas nas TV’s parecem comprovar.

Mas essa é matéria para que os anunciados inquéritos esclarecerão, esperando nós que venham a ser do conhecimento público.

Não se tratou de uma pedra como a que há uns anos caiu sobre a linha do Douro, levando ao abalroamento dela por parte de uma composição puxada por uma locomotiva EE 1400, fazendo-a descarrilar, e cair ao Douro, de que resultou a perda da locomotiva e a morte do maquinista.

Tratou-se como parece evidente de um simples colapso da encosta, não obstante minutos antes a mesma automotora ter passado no local a velocidade moderada, e aparentemente o maquinista nada ter reportado de anormal ao passar no local.

E perante estas situações que se colocam em linhas pouco utilizadas, com pouca circulação de passageiros e pouca frequência de composições, com a ausência de serviço de mercadorias, e que nos anos 80 e 90 levou ao encerramento de muitas linhas e ramais por todo o país (prolongamento da linha do Tua até Bragança, prolongamento da linha do Tâmega, término do serviço de passageiros até Chaves, ficando-se por Vila Real, encerramento de ramais no Alentejo, como os de Reguengos, Moura, Aljustrel, ou Portalegre), poderão alguns pensar que se determinada linha não oferece condições de segurança, como pareceu evidente com o que aconteceu esta semana no Tua, essa linhas, com poucos passageiros deveriam ser simplesmente encerradas.

Não vou entrar em números ou contas para saber se o investimento para reabilitar o leito da linha do Tua para que de novo passem a circular lá comboios regulares ou turísticos, e os custos de exploração compensarão as receitas do reduzido número de passageiros que por lá passa.

O que vou criticar são os que pensam tão racionalmente que se fossemos levar à letra as contas que os números ditam, provavelmente hoje haveriam ainda mais linhas e ramais encerrados, passando a CP e REFER, empresas públicas que devem garantir um serviço público e contribui para a coesão nacional através do serviço que prestam, a terem comportamento à margem da filosofia de serviço público, como se de empresas privadas fossem.

A solução por vezes não pode ser a mais fácil. Nem a mais cómoda.

O mais fácil e cómodo era encarar este acidente como um ponto final na circulação de comboios no Tua.

Mais fácil, mais barato, e acaba-se tudo, como infelizmente acabou o prolongamento dão linha do Douro até Barca de Alva, independentemente de decisão homóloga do lado espanhol dessa linha que levava a Salamanca.

Por vezes as decisões devem ser as mais difíceis, porque as mais desafiantes.

E o mais desafiante será encontrar uma fórmula de rentabilização de ramais e linhas eventualmente deficitárias, exactamente com a inclusão e investimento que permita melhores velocidades comerciais, com linhas de razoável qualidade, material circulante moderno e confortável, por forma a tornar mais atraentes para os passageiros, e horários adequados a quem precisa ou quer viajar de comboio, seja no Tua ou no Alentejo.

O mais desafiante seria termos um país ferroviário que não se limitasse a um relativamente modernizado eixo atlântico Braga/Porto/Lisboa/Faro, duplicado inexplicavelmente por um anunciado TGV entre Lisboa e Porto e daí para Vigo e mais longinquamente uma ligação de Faro à fronteira, e manter os serviços suburbanos, os mais rentáveis, e alguns mercadorias, limitados ao mínimo denominador comum.

Não é isso que se gostaria que fosse o futuro ferroviário em Portugal.

Se a coisa está mal, não se mata, mas cura-se, e dão–se “vitaminas” para que com maior vitalidade possam ter condições de continuidade.

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