Wednesday, March 7, 2007

LINHA DO NORTE E ALTA VELOCIDADE INCOMPATÍVEIS POLITICAMENTE ?




Alta velocidade faz parar investimento na rede ferroviária convencional


Regresso aos trabalhos de modernização da Linha do Norte só deverá acontecer em 2008; composições poderiam demorar menos meia hora a ligar Porto e Lisboa O maquinista suspira de enfado ao imobilizar o Alfa Pendular n.º 132 em frente ao sinal vermelho, nas imediações de Coimbra. São 14h56.


O comboio, que arrancou do Porto, só lá deveria chegar às 15h18. Leva 22 minutos de avanço e vai ter que esperar pela luz verde para poder entrar na estação. Lá atrás, os passageiros impacientam-se. Ainda há poucos minutos viajavam a 220 quilómetros/hora e agora estão para ali parados numa curva.


Com a Linha do Norte modernizada em 60 por cento do seu percurso, a viagem entre Lisboa e o Porto transformou-se num autêntico rally, com troços em que a composição dá safanões e abana ao atingir os 140 quilómetros/hora e outros em que desliza suavemente a 200.


Em vez das três horas actuais, a ligação entre o Tejo e o Douro poderia ser feita em menos 30 minutos, mas a Refer mantém uma "almofada" horária que impede a CP de aproveitar integralmente a linha porque, lá para 2008, serão abertas novas frentes de obra para prosseguir com a modernização, agora já com parâmetros mais baixos, de acordo com as orientações do Governo.


Velocidades comedidas


Entretanto, a Refer está quase parada, sem investimentos à vista, para articular a modernização da rede convencional com a estratégia aprovada para a alta velocidade.


Em vez dos 200 e 220 quilómetros/hora previstos, as novas velocidades para os troços que faltam intervencionar, encomendadas pela secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, serão de 160 para os comboios convencionais e 180 para os Alfas Pendulares. Uns e outros, porém, podem circular a 190 e a 220, respectivamente. O rally ferroviário entre Lisboa e o Porto vai suavizar-se, mas manter-se-á.


A poupança daí resultante é que continua a ser um segredo de Estado. O Ministério das Obras Públicas não respondeu às perguntas do PÚBLICO sobre esta matéria.


Os 137 quilómetros da Linha do Norte que ainda faltam modernizar vão custar menos, mas, segundo alguns técnicos da Refer, às vezes o barato sai caro. Sobretudo se se tiver em conta a paragem do projecto e o tempo - sempre lento - de rearranque, bem como os custos (dificilmente quantificáveis) do operador CP não se aproveitar integralmente o investimento já realizado.


O próprio Tribunal de Contas alertou já para esta situação, ao dar-se conta de que existe uma intenção de não reduzir demasiado os tempos de percurso do Alfa Pendular para poder justificar a vinda da alta velocidade, prevista para 2015, entre Lisboa e o Porto.


Dúvida sobre investimento


Para as linhas convencionais, segundo uma resposta do Ministério das Obras Públicas e Transportes a um requerimento formulado por um deputado eleito pelo partido Os Verdes, serão gastos em 2007 mais de 500 milhões de euros.


Confrontada com este valor, a Refer, que gere a rede ferroviária, recusou responder ao PÚBLICO onde serão aplicados.


Neste momento, além da construção de dois pequenos ramais para mercadorias (um em Aveiro e outro no Seixal), a Refer só tem previsto um investimento de 24 milhões de euros na variante ferroviária de Alcácer do Sal.


O investimento previsto para a modernização da Linha do Norte era, em 1990, de 593,1 milhões de euros, a que corresponderiam 1133 milhões de euros a preços actuais. Até agora (entre 1996 e 2006), foram investidos 1106 milhões de euros, mas só 60 por cento da linha foi intervencionada.


A derrapagem financeira é difícil de estimar porque o fluxo de investimento decorreu durante dez anos e nem sempre de forma continuada, mas indicia que se gastou mais do dobro para quase metade do trabalho. Estão modernizados quatro troços, que totalizam 200 quilómetros, dos 337 que a linha tem.

In Público de 4 de Março de 2007


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Ainda mal se falava na Alta Velocidade, e já os trabalhos de modernização da linha do norte se arrastaram durante anos, para agora mis de 10 ano volvidos apenas 60% dessa linha poder suportar velocidades comerciais de 220 km/hora.

E se a notícia corresponder à realidade dá a sensação de jogadas menos claras numa altura em que muita gente, legitimamente se questiona sobre a conveniência de termos comboios confortáveis e que poderiam ligar Lisboa e Porto em menos de 3 horas, e que na altura da aquisição desse material circulante representou um investimento muito significativo, embora com o retorno decorrente de parte da produção ter sido feita em Portugal, com a linha do norte modernizada na totalidade, e investir antes numa linha de raiz de alta velocidade.

Coisa que dará de comer a empresas e investidores, e sem dúvida que será um motor de crescimento económico, restando depois a dúvida sobre se será rentável termos duas linhas paralelas a ligar as mesmas cidades, uma de real Alta Velocidade, e outra de velocidade suficientemente alta.


Ou estarão os portugueses condenados a viajar na Alta Velocidade previsivelmente cara, se tiverem pressa na viagem, ou utilizar a actual linha em regimes de IR, para que a viagem demore pelo menos 4 horas em cada sentido?


Uma foma de então sim, rentabilizar e garantir clientes para a nova Alta Velocidade?

Ou a Alta Velocidade terá preços competitivos, ou as pessoas continuarão a preferir os velhos Alfas Pendulares, e acho que farão muito bem.

E se tudo for uma estratégia, a de atrasar a modernização para deixar mercado livre para a Alta velocidade, num país que até perdeu a capacidade de construir pelo menos parcialmente comboios em Portugal com o encerramento infame da SORFAME, creio que as políticas ferroviárias em Portugal bateu no fundo.

No fundo da incúria ao deixar degradarem-se linhas até que reste como única opção o seu encerramento, ou então apostar em duas linhas de alta velocidade europeias e deixar tudo o resto como nos anos 60 ou 70 do século passado.

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