Tuesday, February 13, 2007

O Acidente na Linha do Tua ou um Fim Anunciado?

O fim da Linha do Tua pode ter começado a ser traçado anteontem.
In Jornal Público on-line de 13de Fevereiro de 2007-02-13

Esta afirmação do artigo de jornal foi uma constatação, ou uma premonição trágicamente realista?

O que aconteceu ontem com o trágico acidente na linha do Tua, a 6 km da estação do Tua, junto da Linha do Douro representa o resultado de décadas de abandono a que linhas pouco exploradas têm sido votadas, pelas entidades responsáveis, Governo em primeiro lugar, mas também CP e REFER.

Se as chamadas “forças vivas da terra”, ou seja, as Câmaras de Mirandela e Vila Flor quiseram garantir a continuidade do serviço ferroviário na zona urbana de Mirandela, assegurando a CP com os seus meios, a restante circulação até ao Tua, muito anos depois de deixar a exploração comercial de Mirandela a Bragança, assistiu-se depois, desde 2000 a um abandono por parte da CP dessa exploração.

Com automotoras velhas, obsoletas e sem modernização, optou a CP pela solução mais fácil, ou seja, por contratualizar o Metro do Mirandela para assegurar a exploração da linha em toda a sua extensão.

Poupou a CP na compra de mais material circulante, e talvez ajudasse à rentabilização do Metro de Mirandela, através do protocolo então assinado entre as partes.

O que acontece é que a infra-estrutura continuou essencialmente como tinha sido deixada aquando da sua construção no século XIX.

Linha envelhecida, leito da via sem segurança, via sem beneficiações de fundo, taludes não consolidados, velocidades comerciais a rondarem os 30 km/hora, isto no século XXI.

O habitual.

Se uma linha não é modernizada, a frequência de passageiros morre, depois de acabar o trânsito de mercadorias.

E sem clientes, a CP vota linhas e ramais ao abandono sistemático, até que as condições da linha exijam tanto investimento, que a REFER, entidade criada entretanto para construir, manter e gerir a estrutura não tenha tal capacidade para a reabilitação, nem orçamento governamental para essa necessária reabilitação.

E a linha deixa simplesmente de ser explorada.

Aconteceu com as muitas linhas de via estreita que saem da linha do Douro, como o Tua, Tâmega, com a própria linha do Douro até Barca de Alva, aconteceu com grande parte da linha do Vouga, aconteceu com as linhas alentejanas, como os ramais de Mora, há muitos anos, e mais recentemente com os ramais de Vila Viçosa, de Reguengos ou de Moura, definham as linhas que ligam a Funcheira a Beja, ou o troça da linha de Beira Baixa entre a Covilhã e a Guarda.

É o fim do país ferroviário, é o fim de uma integração ferroviária total, em favor da estrada, do camião e do automóvel.

É certo que nos dias de hoje, para que as pessoas viajem, não se podem sujeitar a horários inadequados, a velocidades comerciais baixas, mas o mais preocupante foi o investimento significativo na compra dos comboios pendulares sem que o programa de modernização da linha do Norte se fizesse a bom ritmo para que as vantagens na compra de tais comboios pudesse ser rentabilizada.

O país ferroviário morreu ontem mais um pouco, apesar de alguns investimentos apenas nos eixos mais rentáveis, coma electrificação da via a até ao Algarve ou até Castelo Branco, e ainda na linha da Beira Alta, quadruplicação nos suburbanos de Lisboa, e compra de algum material circulante para a área metropolitana do grande Porto.

E mais nada.

O que se passou ontem na linha do Tua foi uma consequência de desinvestimento, mascarado pela cosmética de algum balastro e de umas passagens de nível electrificadas e automatizadas.

Mas tudo o que é essencial permaneceu como aquando da inauguração da linha nos anos 80 do século XIX.

Velocidades a rondar os 30 km/hora, automotoras do Metro de Mirandela remodeladas há uns anos pela EMEF a circularem ronceiramente, e a CP a libertar-se desse peso comercial, preferindo trespassar essa exploração para uma empresa inter-municipal.

E como consequência, morrem 3 pessoas.

Destrói-se uma automotora.

Desmorona-se o leito da via, e dificilmente os comboios voltarão a circular por ali, pelo menos nos tempos mais próximos.

Contas de merceeiro levarão à conclusão de que o arranjo da linha e consolidação de ladeiras e taludes sai mais caro que a sua exploração comercial.

Sacrifica-se a mercadoria, os passageiros e o turismo.

Como já se sacrificou no troço entre o Pocinho e Barca de Alva.

Contas de merceeiro.

3 comments:

Rui P. said...

Grande Rui

Boa Sorte para o Teu Blog

Um Abraço

Portman44 ;-))))

neptuno said...

Caro amigo Rui
desejo-lhe as maiores felicidades para este novo blogue sobre o tema que o Rui mais gosta, os assuntos ferroviários.

um abraço

Luis Filipe Silva

Mulah Omar said...

Obrigado pelo apoio, rapaziada naval

Rui